O papado de Francisco é uma coleção de reformas inconclusasjogo do tigre que dá dinheiro, atualizações antiquadas e sintomas do descolamento do catolicismo do século 21. Enquanto enfrenta problemas de saúde e reduz sua agenda pública, seu legado se torna ainda mais evidente. Para quem analisa seu pontificado com boa vontade, pode-se dizer que Francisco é um reformador que foi incapaz de reformar sua Igreja. Para os analistas menos generosos, Francisco fez o que a Igreja Católica faz de melhor: mudar para continuar igual.
Quando o cardeal Jorge Bergoglio foi anunciado como papa em 2013, adotando o nome Francisco, havia razões para se esperar transformações na Igreja. O primeiro papa latino-americano era carismático e escolheu o nome Francisco para marcar simplicidade, contrastando com o papa Bento 16, que havia renunciado após escândalos sexuais envolvendo figuras importantes do clero. O Brasil ocupou um lugar importante na construção das expectativas reformadoras.
A primeira viagem internacional de Francisco foi para o Rio de Janeiro, em julho de 2013, para participar da Jornada Mundial da Juventude (JMJ). O novo papa usou a ocasião para marcar sua atenção aos problemas de injustiça social no mundo. Visitou as favelas do Complexo de Manguinhos e reafirmou suas preocupações com os problemas criados pelo capitalismo.
No retorno daquela viagem, ainda no avião, Francisco daria uma resposta histórica à repórter brasileira Ilze Scamparini sobre os homossexuais na Igreja: "Se uma pessoa é gay, busca a Deus e tem boa vontade, quem sou eu para julgar?", disse Francisco.
Mais de dez anos depois dessas duas ocasiões, tudo aquilo parece não ter passado de uma miragem. Francisco repetiu algumas vezes que a homossexualidade é pecado grave; a Igreja Católica não adotou ações pastorais massivas em busca de justiça social, nem mesmo a comunidade visitada por Francisco no Rio de Janeiro continuou majoritariamente católica.
Os vaticanistas, como são chamados os analistas de política e cotidiano do papado, da Igreja e do Vaticano, podem discordar dessa avaliação e dizer que o papado de Francisco promoveu mudanças significativas na Igreja Católica. Citarão, por exemplo, que o papa indicou mais cardeais de países do chamado "Sul Global" do que seus antecessores, que se abriu mais aos diálogos inter-religiosos, que olhou para problemas ambientais e que deu atenção, em seus discursos, a migrantes e refugiados.
A questão é que essas avaliações positivas dos vaticanistas estão pautadas pelo tempo da Igreja Católica, uma instituição milenar cujos movimentos de mudança, quando ocorrem, são tão lentos quanto anacrônicos. Ainda hoje, para a Igreja, as mulheres não podem ser ordenadas sacerdotes, os padres não podem se casar, os gays devem ser celibatários e o matrimônio não pode ser desfeito.
É verdade que no Vaticano também se faz política e, para que essas reformas ocorressem, seria necessário encontrar apoio em setores importantes do clero, algo que Francisco nunca teve. Assim como a última década foi marcada por ondas de governos autoritários e ligados ao conservadorismo de costumes em diferentes partes do mundo, no interior da Igreja Católica os grupos mais à direita também ganharam mais força.
Colunas e BlogsO papa Francisco até tem tentado reduzir a influência de alguns desses grupos, entrando em embates diretos. Em 2023, ele reduziu os poderes e a autonomia da Opus Dei, uma instituição católica conservadora com influência política e econômica, obrigando-a a enviar relatórios regulares sobre suas atividades. Essa medida foi parte dos esforços do papa para aumentar a transparência e a supervisão dentro da Igreja.
Quase 12 anos depois do início de seu papado, Francisco ainda precisa enfrentar os inúmeros escândalos de pedofilia e abusos sexuais por parte de sacerdotes, além da falta de transparência do banco do Vaticano, que sistematicamente é alvo de denúncias. Além disso, depara-se com uma América Latina cada vez menos católica.
Embora essa seja uma sentença pessimista sobre o papado de Francisco até aqui, certamente não é um equívoco dizer que, 12 anos depois de sua eleição, o maior feito do cardeal Bergoglio é ter sido o primeiro papa latino-americano.
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